Como parte da programação alusiva ao Dia Nacional da Consciência Negra, estudantes do 1º e 2º ano do ensino médio da Escola Estadual Benjamin Constant, em Belém, estiveram nesta semana, na comunidade remanescente quilombola Abacatal, na zona rural do município de Ananindeua, na Região Metropolitana. O objetivo da ação foi proporcionar conhecimento a partir da vivência e da interação dos alunos com esta população tradicional brasileira, historicamente marcada pela luta por direitos à terra e pelo reconhecimento da comunidade.
A atividade pedagógica desenvolvida na comunidade remanescente de quilombo foi coordenada pela professora de Geografia e Educação Ambiental, Sabrina Forte, e envolveu 41 alunos do ensino médio. Eles foram recebidos por duas mulheres que lideram da Associação de Moradores do Quilombo, que compartilharam, em uma roda de conversa, a história de luta e resistência pelo direito de existir e de se manter no território. Os alunos também participaram de uma trilha pelo Caminho das Pedras (marco de origem do Quilombo) e conheceram o modo de vida e de produção de alguns moradores. Durante a visita, eles realizaram registros fotográficos, anotações e entrevistas.
A ação na comunidade Abacatal contou com a participação dos professores Ângelo Veiga (Sociologia, Projeto de Vida e Eletiva), Caroline Barroso (História e Eletiva), Kézia Magalhães (Filosofia e Eletiva), Kelly Mascarenhas (Educação Física e Eletiva), Danilo Mercês (Português) e Emerson (Artes e Projeto de Vida), além de representantes da Coordenadoria de Educação para a Promoção da Igualdade Racial (Copir) da Secretaria de Estado de Educação (Seduc), Rodrigo Santos e Hilda Cristina.
Essa discussão sobre as questões étnico-raciais vem sendo debatida ao longo do desenvolvimento dos componentes curriculares na escola, por meio das metodologias de ensino que empregamos. Ano passado o tema foi bem trabalhado ao longo do ano no Projeto Integrado de Ensino de Ciências Humanas e percebemos claramente o despertar dos alunos sobre as questões de autoidentificação, racismo e ações afirmativas. Esse ano, as ações pedagógicas desenvolvidas com muita competência e comprometimento pelo corpo docente do BC dão fluxo e continuidade a esse processo, onde já contamos com o forte protagonismo juvenil envolvido com esse tema.
Para Mayele Assunção dos Santos, 17 anos, aluna do 1° ano do ensino médio, esta foi a segunda vez que visitou a comunidade quilombola Abacatal e relata como foi a nova experiência. "Amei a experiência e com certeza vai agregar valores à minha vida, tanto educacional, quanto cotidiana. Ao ver de perto aquela vivência me fez ter um certo choque de realidade e me fez sentir conforme lá na comunidade. A comunidade luta contra diversos problemas causados principalmente por questões urbanas, que querem fazer com que essa comunidade se renda. E ver a forma que eles lutam por isso me faz acreditar que ainda existem pessoas que lutam para garantir uma união dessa comunidade e para que ela se mantenha viva", observou.
Na visita ao Quilombo Abacatal, o estudante Matheus Felipe dos Santos Silva, do 1º ano do ensino médio, conheceu a cultura e a forma de vida dessa população, bem como a agricultura familiar e seu impacto no quilombo. Ele conta que a vivência foi importante para o aprendizado. “É de suma importância essa visitação ao quilombo, porque nos mostra a realidade desse povo e faz a gente ter consciência de preservar a natureza e de respeitar os direitos dessa população”, afirmou.
Mais de 160 famílias ocupam, atualmente, o território quilombola Abacatal, com suas tradições culturais e modos de vida. A comunidade possui 314 anos de história e sua origem está ligada aos engenhos de cana-de-açúcar, situados próximo de Belém e às margens dos rios Guamá, Bujaru, Acará e Moju, muito comuns nos séculos XVIII e XIX.
A comunidade conta que o engenho do Uriboca, propriedade do conde Coma Mello, foi deixado como herança para três de suas filhas, as "três Marias", fruto da relação do conde com a escrava Olímpia, dando início ao que conhecemos atualmente como “Quilombo do Abacatal”, que possui sua demarcação territorial regulamentada e titulada desde 1999.