A temporada de eclosão dos ovos de quelônios iniciou nas Unidades de Conservação. Na Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) do Rio Amapá, os primeiros 147 ovos de tracajás (Podocnemis unifilis) e irapucas (Podocnemis erytrocephala) eclodiram na comunidade Rio Novo, em Manicoré (a 332 quilômetros de Manaus).
A eclosão é a primeira monitorada pela Secretaria de Estado do Meio Ambiente (Sema) na Reserva. A RDS tornou-se a 24ª Unidade de Conservação a realizar o trabalho de monitoramento de quelônios. O local escolhido encontra-se no km 360, chamado “trecho do meio” da BR-319, e foi selecionado por sua localização estratégica e pela presença comunitária local.
Segundo o gestor da RDS Rio Amapá, Rosivan Moura, a comunidade recebe diversas pressões e ameaças ambientais. A área é parte da zona de amortecimento da RDS. Banhado pelo rio Novo, o local é utilizado como meio de acesso até o interior da Reserva, onde há histórico de caça predatória de ovos de quelônios.
“A ideia de trazer a primeira chocadeira para cá foi de tentar sensibilizar e ter um monitoramento dessa área com uma presença maior do Governo do Estado, dos órgãos de fiscalização, bem como uma participação mais ativa dos parceiros de trabalho, para que nós possamos minimizar os impactos que essa área vem sofrendo”, explicou o gestor.
Montagem da chocadeira
Para a construção, foi necessária uma equipe técnica fazer a inspeção do local. A retirada da madeira foi oriunda da Reserva, com base na Norma do Auto-Abastecimento (Resolução Cemaam nº 03/08). Em parceria com o Consórcio Concremat/Hollus e o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), foram adquiridos os insumos necessários.
“Essa área está incluída nos espaços de atuação do DNIT, por isso a Sema nos convidou para atuar nesse projeto. Nas reuniões, fomos vendo as necessidades, quais apoios seriam necessários, e chegamos no resultado da montagem da chocadeira, por meio de parceria com a empresa que faz a manutenção da BR-319”, explicou Karen De Santis, supervisora do Consórcio Concremat/Hollus e gestora ambiental do DNIT.
A capacitação para os trabalhos foi realizada pelos técnicos em monitoramento ambiental da Sema, que unem o conhecimento técnico-científico ao conhecimento popular. Foram ensinados os métodos de coleta, identificação da desova e a maneira correta de depositar os ovos na chocadeira.
Apoio aos comunitários
As capacitações surgiram visando, além da redução de ameaças ambientais locais, a melhoria de resultado de um trabalho similar na comunidade. Paulo Nazareth, pescador e primeiro morador do trecho do meio da BR-319, afirma que tentou trabalhar no monitoramento por conta própria há 20 anos, mas não obteve sucesso.
“Eu tenho um lago aqui no meu terreno, e a primeira vez que soltei bicho de casco, foram 70, há uns 20 anos. Aí todo ano continuei pegando e soltando. Só que no tempo que meu filho adoeceu precisei ir pra Manaus, tinha um cercado para proteger os tracajás. Mas como não tinha ninguém para reparar, um jacaré entrou, arrombou a cerca, e levou os tracajás chocados todos embora”, relatou.
Agora, com o trabalho capacitado, Paulo vê uma perspectiva de sucesso que será deixada aos seus filhos e netos. Segundo especialistas e técnicos da Sema, a taxa de sobrevivência do quelônio manejado é de 15% a 20%, sendo que, na natureza, esta taxa é entre 0,5% a 2%.
“Enquanto eu existir nesse lugar e for vivo, a minha obrigação é fazer isso. Porque a gente convive com a natureza, e a gente sente muito a perda de um animal desse. A gente vê que está diminuindo. Então temos que trabalhar para recuperar. Têm nossos filhos, nossos netos, a nossa família e eles precisam disso”, completou.
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